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13 de março de 2008

A RECICLAGEM...,

eu trato por tu. a avó Guilhermina (avó paterna) teve onze filhos, e apanhou com a guerra e pós-guerra..., e acho que não foi fácil e ela teve que "inventar" muita coisa... na cozinha fazia verdadeiros "milagres da multiplicação". fazias as fatias tão finas, que o meu pai dizia que se via o dia através delas. se sobrava arroz branco, acrescentava leite, (não sei se levava ovos) açúcar, canela e fazia arroz doce. fazia a-melhor-manteiga-do-mundo, aproveitando a nata que se desprendia do leite depois de o ferver. fazia queijo fresco com o soro de fazer a manteiga. fazia pão, biscoitos, doces, compotas, marmelada e geleias. cristalizava as cascas de laranja. as cascas de cebola davam para fazer um chá com um qualquer benefício especial. torrava pevides de abóbora, e um sem-número de outras coisas que já não me recordo.
com as agulhas, também fazia verdadeiras maravilhas. patchwork, arte aplicada, crochêt e aquela costura prática que consistia em colocar umas cotoveleiras nas camisolas coçadas, joelheiras nos calções, virar os colarinhos ao contrário que sempre aguentavam mais outro tanto, ajustar tamanhos para passar de uns filhos para os outros, e por aí em diante... fazia uns tapetes em espiral com tiras de meias de vidro e trapos, que eram lindos e únicos com um matizado aleatório de cores sóbrias. eu tenho um que conservo com orgulho. fazia sabonetes "novos" com os restos de sabonetes, em casa da minha avó os sabonetes eram mesclados de várias cores.
claro que lá em casa, o meu pai, que foi o único seguidor de tais façanhas, também nos ensinou a reciclar. o que mais se reciclava em casa era o papel. o meu pai trazia do F. Ramada, as folhas gigantes dos desenhos de projectos que no verso eram brancas, e cortava-as em tamanho A5 e agrafava (1 ou 2 agrafos, chegavam) umas quantas folhas e assim fazia os nossos cadernos. na "capa" escrevia(m) "caderno de apontamentos" e iam, um para uma gaveta da cozinha para anotar as "faltas", outro para a mesa do telefone, e os que se destinavam a nós, tinham nomes como "caderno para números", "caderno para letras", "caderno para desenho". como sendo pouca a reciclagem, ainda vinha a recomendação de aproveitar as 2 páginas da folha. eu nunca gostei de usar "lado A e lado B" das folhas de papel e por vezes (muitas) "esquecia-me".

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